A fome entre as antigas ameaças



Os alimentos transgênicos foram um dos mais debatidos assuntos do encontro. Mas antigas e conhecidas mazelas, sobre as quais se pode ter controle mas continuam a ocorrer, entraram nas discussões e nas denúncias. Entre elas, os casos de leite pasteurizado contaminado por bactérias, azeite de oliva fraudado, água mineral com excesso de flúor, alimentos dietéticos com teor de açúcar acima do permitido por lei, balas importadas com corantes proibidos.
Fraudes como essas têm sido mantidas em segredo e restritas aos meios acadêmicos e técnicos, de forma a obstruir o acesso público à informação sobre os riscos que certos alimentos industrializados podem trazer à saúde.
Como se não bastasse, aos numerosos casos de violação dos direitos do consumidor registrados no Brasil soma-se um mais devastador ainda – o da fome crônica: este ano, um contingente de 30 milhões de pessoas foi atingido pela fome no Nordeste, e a seca é apenas o componente mais dramático dessa situação, que agrava o quadro de miséria no País.
Por isso, a campanha sobre alimentos, lançada durante o encontro, será, segundo seus articuladores, um amplo movimento nacional pelo alimento acessível, saudável e nutritivo e já começou dentro do próprio evento, com as denúncias do que vem acontecendo em várias regiões do país, feitas por dirigentes de entidades de consumidores presentes ao encontro.
Para expor as dificuldades de acesso ao alimento, Silvia Vignola, da Secretaria de Vigilância Sanitária de São Paulo e membro do Conselho Diretor do IDEC, recorreu a alguns números ao falar sobre o assunto para os representantes das organizações presentes.
Em todo o mundo – informou – estima-se que cerca de 40 mil pessoas, na maioria crianças, morram por dia de desnutrição e doenças associadas à fome. "Mas a fome não ocorre só na África. Está bem perto; aqui mesmo, no Brasil", disse, lembrando que o governo é signatário, desde 1996, da carta de intenções que resultou da Cúpula Mundial de Alimentação, realizada em Roma, que define a alimentação como um direito fundamental do homem – um direito à vida.
Na oportunidade, disse, o Brasil assumiu o compromisso de "garantir uma conjuntura política, social e econômica propícia, destinada a criar as melhores condições possíveis para erradicação da pobreza, que favoreça ao máximo a consecução de uma segurança alimentar sustentável para todos".

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